quarta-feira, 20 de junho de 2012

Terapia Hormonal



Texto retirado da monografia: PREVENÇÃO AO USO INADEQUADO DE HORMÔNIOS EM TRANSEXUAIS E TRAVESTIS - 2007
Monografia apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Especialista em Promoção de Saúde e Prevenção do Consumo de Substâncias Psicoativas

Por Pedro Henrique Gatti Lima

Homens e mulheres congênitos possuem gônadas que fabricam hormônios sexuais responsáveis pelo amadurecimento sexual e fisco em geral. O homem produz hormônios masculinos como a testosterona e a mulher produz estrogênio e progesterona. A terapia de Reposição Hormonal - TRH (Hormone Replacement Therapy - HTR, em inglês) pode ser aplicada a pessoas não transexuais que por algum motivo deixaram de produzir hormônios, seja por conta de uma remoção acidental ou situações como a menopausa, andropausa, distúrbios ou doenças.(RANSEY, 1998, WIKIPEDIA, 2007c)
Quando se trata de homens e mulheres transexuais a TRH causa o desenvolvimento de algumas características sexuais secundárias do gênero desejado, no entanto nessas pessoas ainda existem glândulas endócrinas que produzem os hormônios que estão em contradição com seu gênero desejado. (RANSEY, 1998)
Muitas das características sexuais primárias e secundárias já existentes não podem ser desfeitas pela TRH apenas. Por exemplo, seios irão crescer em mulheres transexuais (MtF), mas não vão regredir em homens transexuais (FtM). Entretanto, algumas características como distribuição de gordura corporal e muscular, assim como menstruação em homens transexuais podem ser revertidas pelo tratamento hormonal.
Geralmente, esses aspectos podem ser reversíveis, podendo retornar ante a cessação do tratamento hormonal, dependendo do tempo de uso e do modo como foi usado e, a menos que uma orquiectomia ou uma histerectomia não tenha ocorrido. (RANSEY, 1998)
O acompanhamento clínico “de fato” dos transexuais, divide-se em duas etapas: a primeira consiste em assumir-se socialmente como do outro gênero e a segunda implica no tratamento hormonal. Essas duas etapas iniciais são relativamente reversíveis; porém, a ultima etapa, o procedimento cirúrgico, não é. (Vieira, 1996).
O estrógeno é responsável pela feminilização e produz alterações na mucosa da vagina. Contribui para a regulação de funções do metabolismo. O início precoce da produção adianta a puberdade e sua falta pode suspender a menstruação. (Vieira, 1996).
O estrógeno pode ser utilizado a titulo terapêutico (câncer de próstata) ou como toxicomania para os transexuais. Ele faz cessar as ereções, pode acarretar uma atrofia da verga e dos testículos, crescimento dos seios, multiplicação e afinamento dos cabelos, queda dos pêlos dos membros e do tronco. (Vieira, 1996).
A peça chave deste trabalho, definitivamente é a terapia hormonal e para falar desta questão vou me remeter ao trabalho de Athaide (2001) no qual a autora inicia o capitulo colocando que apenas os tratamentos hormonal e cirúrgico, com troca do sexo, satisfarão os anseios dos pacientes e melhorará sua condição mental.
Baseado nessa concepção, e frente à dificuldade para encontrar profissionais sérios e treinados para atendimento, com posterior encaminhamento, para a terapia hormonal e cirurgia, que muitos transexuais e travestis, “pulam” fases do tratamento e buscam, normalmente em pares a ajuda para conseguir hormônios e/ou ainda silicone (bombadeiras)[1].
O tratamento hormonal só pode ser prescrito após um consenso ser alcançado em relação a uma forte suspeita diagnóstica de transexualismo e sob supervisão médica.
Dentro do processo de terapia hormonal de um transexual, existe um período chamado de “período teste”. Será focado aqui apenas a mulher transexual (MtF). As substâncias usadas nestes casos são um anti-androgênio, que irá diminuir as características masculinas e o estrogênio. Frequentemente, entretanto, os pacientes chegam a um centro especializado para tratamento já em uso de auto-medicação. (Athayde, 2001)
Para evitar os efeitos colaterais e as complicações, deve-se estabelecer a via de administração e as doses adequadas para obter o melhor resultado terapêutico.
Em entrevista com o Dr. Alexandre Sadeeh, médico psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, ele relata que “No inicio (do programa de atendimento aos transexuais) eram os transexuais mais antigos que chegavam com aplicação de silicone industrial e já hormonizados, uma população de homens mais velhos. Atualmente, chegam pacientes em todos os patamares de evolução, desde aqueles bem masculinos ainda, com jeito de homens, com roupas de homens ou o contrario, até aqueles que já se hormonizam, já têm vida estabelecida, já trocaram o nome, então, no mais variado grau de evolução”.
Quando o paciente chega em busca de atendimento, já hormonizado, existem medidas pontuais que devem ser tomadas, ele explica que o primeiro passo é avaliar primeiro porque que o paciente está tomando os hormônios, pois a grande maioria começa a se hormonizar para se transformar mesmo; pela necessidade de sentir que o corpo está arredondando, diminuir os pêlos, afinar a voz, diminuir a massa muscular e ganhar gordura corporal. A questão principal refere-se à avaliação da importância de tudo isso para que o diagnóstico e o encaminhamento possam ser feitos corretamente.
Ele ressalta que os hormônios, tanto masculinos quanto femininos alteram algumas características psicológicas, e que deve haver atenção redobrada no papel de avaliar, que influência isso tem sobre o individuo e definir se é um transexual mesmo ou se é um travesti. Saber realmente o que acontece é fundamental para fazer o encaminhamento correto do paciente.
No Ambulatório de Endocrinologia Feminina do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), Rio de Janeiro, desde 1999, é realizado o tratamento de transexuais masculinos. Existe a necessidade de estabelecer um protocolo, em termos de exames basais, acompanhamento pela equipe multiprofissional e controle de terapia de reposição hormonal, porém isso nem sempre é possível, devido ao fato de que a maioria chega ao ambulatório já em uso de hormônios por conta própria. Algumas vezes essa procura vem após ter realizado a cirurgia com profissionais não capacitados, o que lhes tira qualquer possibilidade de funcionalidade genital. (Athayde, 2001)
Pensando nos efeitos colaterais que podem ser acarretados devido ao uso inadequado de hormônios, Asscheman & Gooren, destacam a ocorrência dos efeitos colaterais sérios (por exemplo, a prevalência de uma doença tromboembólica de 2.1% nos pacientes abaixo de 40 anos de idade e de 12% nos pacientes acima de 40 anos), ou seja, situação não rara. (ASSCHEMAN & GOOREN, 1992)
Tendo em vista as necessidades dos transexuais, estes efeitos colaterais apresentam um difícil dilema para a terapia de reposição hormonal. Atualmente não há nenhuma diretriz plena que possa ser seguida e a decisão de prescrever hormônios para transexuais deve vir acompanhada de uma explicação para os pacientes sobre os possíveis efeitos colaterais e um cuidadoso julgamento clínico. (ASSCHEMAN & GOOREN, 1992)
Os esforços para reduzir o risco de doença tromboembólica ocorridos pela administração injetável do estrogênio são muito promissores, mas não conclusivos neste momento. Mais trabalhos referentes a esse tema são necessários para divulgar efeitos colaterais em longo prazo. (ASSCHEMAN & GOOREN, 1992)
Os Hormônios são ferramentas indispensáveis para o transexual induzir e a fazer a manutenção das características sexuais do gênero alvo e um dos objetivos principais é impedir efeitos colaterais como a osteoporose que poderá vir a se manifestar futuramente em suas vidas. (ASSCHEMAN & GOOREN, 1992.)
O fato é que, comprovado o transexualismo, e manifestado expressamente o consentimento do interessado em fazer o trabalho de readequação sexual, surge para os médicos que o assistem a possibilidade inquestionável de realizar a terapia de reposição hormonal e o ato cirúrgico, que são essencialmente terapêuticos, evitando, assim, que o interessado tenha que praticá-los sozinho, mutilando-se e enfrentando os evidentes, inegáveis e absurdos riscos decorrentes de tal conduta suicida. (Athayde, 2001)


[1]No meio travesti, são denominadas bombadeiras as travestis mais velhas que aplicam silicone industrial em outras travestis. Essa aplicação tem um risco muito elevado, uma vez que o silicone industrial pode cair na corrente sangüínea, provocando uma intoxicação e óbito por envenenamento. Outros danos causados pelo silicone podem ser: Infecção pelo HIV/Aids, rejeição, infecção, deformação da parte alterada, invasão do silicone para a corrente sangüínea (dificuldades de respirar, cansaço) e lesão nas partes vitais.A aplicação do silicone constitui operação extremamente dolorosa, devido às agulhas serem muito grossas (de uso veterinário), as únicas que permitem a injeção do produto. São necessárias varias perfurações, para se moldar um “Pirelli” (quadril), os orifícios deixados pela agulha são tampados com esmalte de unha ou cola “tribonder”.(texto retirado de uma comunidade do Orkut):
 http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=4113827&tid=2449493857648717839&kw=bombadeiras )

Referências:
RANSEY, Gerald. Transexuais: Perguntas e respostas. Trad. Rafael Azize. São Paulo: Editora Summus, edições GLS, 1998. 
WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Transexualidade&oldid=6929192>. Acesso em: 20 Ago 2007c 
VIEIRA, Tereza Rodrigues. Mudança de sexo: Aspectos médicos, psicológicos e jurídicos. São Paulo: Livraria Santos Editora, 1996. 
ATHAYDE, AmandaValeria Luna. Transexualismo Masculino. Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 4 Agosto 2001  
ASSCHEMAN, Henk M.D. and Louis J.G. GOOREN, M.D.  Hormone Treatment in Transsexuals, 1992 disponivel em http://www.transgendercare.com/medical/hormonal/hormone-tx_assch_gooren.htm
 


3 comentários:

  1. Sou o primeiro transexual masculino (FTM) a ser operado no Brasil. Gostaria que postasse tb os efeitos hormonais para o nosso caso. Abaixo mais informações a meu respeito e o livro que escrevi.

    Você já leu meu livro que acaba de receber o segundo prêmio?
    https://www.facebook.com/pages/Viagem-Solit%C3%A1ria/205100982907932
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    Viagem Solitária
    Escritor. Autor do livro Viagem Solitária - Memórias de um transexual 30 anos

    ADQUIRA AQUI em ebook:
    http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=29784140&sid=77192015014529406737535932

    OU AQUI:
    Livraria Saraiva
    http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/produto.dll/detalhe?pro_id=3677270&csParam=%7B%22feature%22%3A%22viewpersonalized%22%2C%22source%22%3A%22Home+Principal%22%2C%22recType%22%3A%22viewpersonalized%22%7D

    Blog: João W. Nery
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    1. Olá João,

      Estou colhendo material para falar sobre homens trans. Pretendo fazer uma compilação de textos sobre o assunto, inclusive falando sobre hormônios e suas reações, provavelmente no mês de Julho focarei nestes assuntos.

      Quanto ao seu livreo estou tentando arrumar um tempo para ir a livraria, mas com certeza vou ler.

      Se você puder me mande por e-mail (pedroglima@hotmail.com) uma resenha, com foto, para postar aqui também.

      Abraços
      Pedro Lima

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  2. Olá pessoas vou deixar o endereço do meu blog para que visitem,quero que conheçam a rotina de uma trans Tipicamente Curitibana.
    http://transabsoluta.blogspot.com.br/

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